terça-feira, 6 de setembro de 2011

Saudades...

Esta postagem reúne alguns tópicos abertos basicamente no fórum Skyscrapercity.com sobre Santo Ângelo.

Destaque para o thread histórico feito basicamente com fotos do blog santoangeloemfatosefotos.blogspot.com.

http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1148351 contribuição do amigo Santoangelense.

Vale a pena conferir, especialmente o casarão da foto 11 que considero uma lástima tremenda ter sido perdido sem eu ao menos conhecê-lo, o Cine Teatro Municipal que era um belíssimo e imponente exemplo modernista e o antigo Clube Gaúcho, que com certeza seria nosso mais belo e imponente eclético.

Muitos dirão que sou contra o progresso e o dito desenvolvimento, mas quem me conhece sabe que sou um profundo admirador de arquitetura contemporânea e arranha-céus envidraçados, se não é possível manter toda a construção, que ao menos sua fachada seja mantida e o interior ampliado e renovado.

O que não pode acontecer é verdadeiros crimes contra o patrimônio continuarem a ser rotina na nossa cidade.

Preservar para que?

Nos últimos dias a questão da preservação ou não preservação do patrimônio histórico remanescente voltou à tona em Santo Ângelo com a demolição de um sobrado dos anos 20. Arquitetonicamente apesar das linhas sóbrias e retas o sobrado se sobressai pela origem germânica, constituindo-se um dos poucos exemplares do estilo que ainda resistiam ao dito progresso.

Infelizmente o Brasil anda na retaguarda do desenvolvimento sustentável e preservação do patrimônio. Enquanto a Europa reconstrói com extremo esforço, demolindo monstrengos construídos sobre palácios para restaurar o antigo esplendor e investindo bilhões de euros na busca de seu patrimônio destruído em guerras, o Brasil, nunca atingido por nenhum conflito conseguiu destruir praticamente tudo em nome do tão falado progresso. Uma pergunta que me vem a mente é: que progresso é esse que destrói o passado sem remorso? Que futuro nos espera se quase nada nos resta que conte a história das nossas cidades?

Infelizmente Santo Ângelo preservou pouco, muito pouco. Temos pouquíssimos remanescentes do nosso passado, muitos dos quais bastante danificados por reformas que quase em sua totalidade apenas deformam e agridem o visual. Já escutei de pessoas próximas que ficaram decepcionadas com o que viram em Santo Ângelo. Fora o complexo Catedral – Prefeitura – Museu não temos nenhum conjunto remanescente do nosso passado. Falo em conjunto pois nada mais belo que observar várias casas em um continuum histórico e arquitetônico. Talvez ainda tenhamos, a Travessa Mauá, com seus belos prédios modernistas dos anos 40 e 50. Mas e do nosso passado anterior? Para uma cidade de mais de 300 anos de ocupação humana quase contínua temos um patrimônio no mínimo medíocre, e que com o passar do tempo se torna cada vez menor.

Falta cultura e conscientização. A cultura da preservação, da valorização do bem histórico e, sim do orgulho em possuir um imóvel que conta a história de toda uma região. Falta também a mudança de mentalidade que o velho é ruim e o novo é bom. Na Europa nada mais arrojado do que ter seu escritório ou empresa em um prédio histórico perfeitamente preservado.

Minha tristeza é grande, pois desde pequeno vi Santo Ângelo se destruindo, se anulando historicamente. Poderia citar dezenas de demolições que me deixaram profundamente tristes, muitas dos quais para dar lugar a terrenos vazios, ou estacionamentos.

Vou ainda além, além de preservar as autoridades competentes e a sociedade civil deveria se engajar na restauração dos imóveis históricos, recuperando suas características originais e se possível ainda, reconstruir o que foi perdido e cujo lote encontra-se vago.

Temos também a questão dos donos de imóveis, muitos contrários à preservação. Estes devem receber incentivos para restaurar seus imóveis, isenção total de impostos para os que preservarem as características originais e alternativas de compensação financeira pelas eventuais perdas ou desvalorização do lote. É possível preservar e lucrar muito com isso, creio que várias casas no entorno da Catedral poderiam virar museus ao céu aberto com janelas de visualização dos remanescentes jesuíticos e sim, cobrar pela visitação. Temos uma história riquíssima que não pode se perder de maneira tão leviana, e temos um potencial não explorado imenso, aguardando muitas vezes sob o solo ser descoberto.

Espero que não seja apenas mais uma demolição, pois cada casarão demolido, cada casa desfigurada é um pedaço da minha e da história de todos os santo-angelenses que desaparece.

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Fernando Schubert

Cientista da Computação

P.S. Desculpem os erros de português, concordância etc. Escrevi este texto em 20 minutos devido à indignação e necessidade de fazer algo de útil por nossa amada, linda mas muitas vezes maltratada cidade.